05/11/2011

A Vida na Selva: Primeiro Dia


   É estranho como certas coisas demoram a ser processadas pela mente humana. Já estava caminhando há meia hora na selva quando me dei conta de onde estava e do que realmente estava fazendo.  Depois de acordar no susto e rapidamente me juntar ao restante do grupo no batalhão, iniciei o “aquecimento” do Estágio de Adaptação à Vida na Selva – 4 horas de marcha na mata. Metade do trajeto foi muito tranquilo, já que nao possuía mochila para carregar; percorri o restante levando a mochila de uma colega que havia machucado o joelho.

Esse aquecimento foi proveitoso para apresentar duas coisas muito características da Amazônia: a lama e os mosquitos. No início a pessoa até tenta procurar trajetos mais secos enquanto desvencilha-se desses insetos, mas logo percebe que é inevitável. Picadas acumular-se-ão pelo corpo e coturnos ficarao mais marrons que pretos. Resta aceitar o sofrimento e tentar ignorá-lo ao máximo!
Bicho infernal!
Bicho infernal!
Com o fim da marcha, inciou-se a primeira instrução, sobre materiais úteis. Aprendi sobre cipós que viram cordas, folhas que viram telhados e troncos de árvore que, bem trabalhados, transformam-se me mini-casas. Além disso, treinei a pecunha, uma técnica de escalada de árvores com a utilizacao de cipós presos aos pés. Difícil! Incrível como os nativos tem facilidade para essa atividade.
Terminada a aula, pausa para o almoço. 10 minutos contadinhos para engolir todo o arroz, feijão, farofa e peixe possível (com o indefectível suco de caju, claro) e ainda preparar o equipamento. Tive que o emprestar do Batalhão, no improviso mesmo, o que logo mostraria ser uma desvantagem em relação ao restante do grupo (que teve uma semana para comprá-lo, emprestá-lo e/ou consertá-lo). Para completar, recebi meu pau de fogo – uma arma que eu deveria carregar sempre comigo.
A segunda instrução abordou a sobrevivência em geral (fique perto de fontes de água, obtenha alimentos, defina seu local de descanso) e a montagem da rede de selva. A rede é semelhante a uma rede comum, porém com a adição de uma tela mosquiteira e um pequeno telhado. Surgiu aí o problema: como montar uma rede sem cordas para amarrá-la? O equipamento recém-emprestado era extremamente deficiente, logo eu, Ariel e Eduardo penamos para cumprir a tarefa.
Rede de Selva
Rede de Selva
Jantar idêntico ao almoço, fui para a instrução de Ofidismo. Aprender novamente sobre cobras e seus venenos foi um pouco entediante, mas logo em seguida veio a parte prática. E que prática! “Capturei” uma sucuri com as mãos nuas, sem qualquer instrumento para me auxiliar (sem contar o pé do instrutor, que tentava distrair o bicho). Situação bizarra, mas muito enriquecedora.
A famigerada sucuri
A famigerada sucuri
Depois, passamos  à prática de tiro de caça. Atirei com uma 16, que surpreendentemente (para mim, pelo menos) não tem recuo algum. O barulho da arma, porém, é muito alto mesmo. Tiro efetuado, paca abatida – de mentirinha, claro – fui descansar na cambaleante rede de selva. Tempo de sono: meia noite às 5h.
Saldo do dia: uma farda enlameada e molhada de suor, dois pés destruídos pelo coturno, muita coisa aprendida. E isso foi só o começo.
                                                                       SELVA!!!

CIGS forma primeiras mulheres "guerreiras de selva"

                                     

Sgt Xavier e Sgt Lidiana, as primeiras "guerreiras de selva" do CIGS

O curso de Guerra na Selva, ministrado pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), é um dos mais rigorosos do Exército Brasileiro. A sua missão é "especializar militares para o combate na selva, realizando pesquisas e experimentações doutrinárias para defesa e proteção da Amazônia".
As Guerreiras logo apos receberem o breve ''cara da onça''


Para conquistar o brevê da cara da onça, símbolo que identifica o Guerreiro de Selva, os "guerras", como são chamados os alunos do curso, precisam passar por seis semanas de muita ralação, dormindo somente três horas por dia e carregando 30 Kg nas costas em plena Floresta Amazônica.
Dos 70 alunos que iniciaram o curso, apenas 47 resistiram. Entre os alunos estão duas mulheres: as sargentos Xavier e Lidiana. Esta foi a primeira vez que o Exército permitiu a participação de mulheres no curso.
Segundo o Ten Cel  Montenegro, chefe da Divisão de Ensino  do CIGS, o Curso de Guerra na Selva, "não é um curso para mulheres, é um curso em que as mulheres ganharam o direito de participar também". O coordenador do curso, Maj Carlos César Brasil, diz que todos são tratados com igualdade. "Não existe diferença. Guerra na Selva é um só. Se ela quer ter o brevê da cara da onça, vai ter que fazer tudo que o segmento masculino faz", afirma o major.

Após formar mais de 4.937 militares do sexo masculino, o Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs) diplomou pela primeira vez em solenidade militar, as primeiras guerreiras de selva das Forças Armadas brasileiras.
Com outros 45 militares, as 3º sargentos do serviço de saúde, Lidiana Reinaldo Jiló da Costa e Elisângela Ferreira Xavier, participaram dos cursos de Guerra na Selva nas categorias A, D, E e F.
De acordo com o comando do Cigs, as duas concluíram com aproveitamento um dos cursos mais difíceis do Exército Brasileiro. Além de conhecimentos inerentes aos guerreiros de selva, elas também obtiveram capacitação de Assistência Hospitalar.  
O Curso de Operações na Selva teve duração de oito semanas, das quais mais da metade com atividades de treinamento no campo de instrução do Cigs, em zona de mata fechada, a 70 quilômetros de Manaus.
                                                                   
                                                   SELVA!!!